13 de setembro de 2010

Duas vilas de Anchieta vão desaparecer para dar lugar à usina siderúrgica no Espírito Santo

"Aqui, tudo é gente minha. Todo mundo se conhece, não tem violência e nem roubo. Por isso, tenho fé em Deus de só sair daqui no caixão". Assim resume o que sente Petrolina de Jesus Vitor, uma mulher de 93 anos que nasceu, sempre viveu e mora até hoje na comunidade de Monteiro, uma vila do município de Anchieta que vai desaparecer, caso seja aprovado, pelos órgãos ambientais, o projeto de construção de uma usina siderúrgica na região. Se isso acontecer, 110 famílias terão que sair de suas casas - 73 em Chapada e 37 em Monteiro. A história de dona Petrolina reúne um pouco da história de cada um dos moradores das duas comunidades - a outra é Chapada do A - localizadas bem no centro da área onde a Vale pretende instalar a usina. Terra antes habitada por indígenas - pelo menos é o que dizem os artefatos que esporadicamente são encontrados na região -, o lugar não era exatamente onde a mineradora queria instalar sua fábrica de placas de aço no Espírito Santo.
Depois que o primeiro projeto - Companhia Siderúrgica Vitória (CSV), que seria construída em parceria com a chinesa Baosteel - foi rejeitado pelos órgãos ambientais sob alegação de que não haveria água suficiente e que a região não suportaria mais emissão de partículas, a Vale decidiu mudar a localização da siderúrgica. Segundo os executivos da CSU e os técnicos que cuidam do projeto, a mudança visa a exatamente melhorar a localização da usina de aço quanto à emissão de particulados. Em relação ao fornecimento de água, não há influência da localização, já que o segundo projeto prevê a recirculação de mais de 70% da água doce e o uso de água do mar para o resfriamento dos equipamentos.
História esquecida Em Monteiro, dona Petrolina fez sua história, casou-se, criou os 11 filhos, recebe os netos e bisnetos - "perdi a conta de quantos tenho, nos dois casos" - e não cogita ir morar na cidade de Anchieta, onde moram filhas e filhos. Prefere ficar em Monteiro com o filho Ilmo, de 66 anos, aposentado, que cuida dela há três anos. "Depois que me aposentei como cozinheiro de um hotel em Anchieta, eu e meus irmãos conversamos e ficou decidido que eu ficaria morando aqui para cuidar da minha mãe. Os outros filhos dela, netos bisnetos e parentes vêm visitá-la sempre, mas eu é que fico aqui o tempo todo. Não sei o que será dela agora que vamos ter que sair daqui para essa empresa vir pra cá", comenta Ilmo Vitor. A incerteza quanto ao que será da vida e o que restará da história de cada um não é só de Ilmo ou de dona Petrolina. De uma maneira ou de outra, mesmo os jovens, que buscam oportunidades de trabalho, manifestam a preocupação com o que encontrarão pela frente quando deixarem a vida das comunidades de Monteiro e Chapada do A para morar em outros lugares, como espera a Vale. Chapada do A e Monteiro são os nomes das duas comunidades que estão bem na área onde a Vale pretende construir sua siderúrgica, no município de Anchieta. Chapada do A recebeu este nome porque o trem que saía de Jabaquara para Anchieta parava numa chapada onde havia uma caixa d'água, exatamente no local onde hoje está a comunidade formada por 73 famílias. A vila, que fica próxima à Samarco, depois de muita reivindicação junto à prefeitura de Anchieta, tem agora, recém inaugurados, ginásio de esportes e escola com quatro salas para atender os 50 alunos das duas comunidades. Tem ainda estrada asfaltada recentemente, inclusive até à comunidade de Monteiro, o que também era reivindicado. A Chapada do A tem até a sede da empresa Demil, empreiteira que presta serviços para a Samarco Mineração e igrejas.

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